Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2019

Os mortos do Brasil

No último texto, falamos sobre mortos e complexos, e dissemos, em suma: deixemos os mortos falarem. Sem verdades espíritas, sem verdades psicológicas, deixemos os mortos falarem na pura experiência fenomenológica do que têm a nos dizer. E é evidente que, como em tudo, falarão com eles nossos complexos. Hoje, pergunto: se falassem, que diriam os mortos do Brasil? E pergunto, é claro, porque ao longo do último mês vimos “a morte ali na esquina”, como diria Mortícia Adams, desde acidentes de helicóptero até enormes tragédias de lama tóxica. Acontece que a minha própria formulação me intriga: “se falassem”? Parece que a morte desandou a falar no último mês (uma parte dela, pelo menos). E parece também que ninguém parou para ouvir: todos se chocaram, se assustaram com o fantasma, saíram correndo, e nenhum sequer deixou que os mortos falassem. Bem, não é surpresa, afinal, a morte não vinha falando muito, vinha sendo dia a dia mais silenciada na calada da noite (“chama o ladrão, chama o

Mortos e complexos

Começo este texto com a voz da anima, com a voz dos mortos do Livro Vermelho, com as alter-vozes do mais dentro. E com o compromisso de ficar com a imagem. Em outras palavras, começo com o Jung do Livro Vermelho, não com o Jung do doutorado sobre uma médium espírita. Ou seja, com o Jung que fala com os mortos, não com o Jung que iguala os mortos a complexos. Não que me interesse chamar Jung de espírita ou místico, mas me interessa, antes de tudo, a atitude fenomenológica de validação da experiência por ela mesma.  Não quero dizer que há mortos falando com Jung (apesar de que, a esta altura, ele está entre os mortos), que pudessem ser empiricamente comprovados – se é que isto vale alguma coisa. Meu único pedido aqui é que não descartemos a experiência atribuindo mortos a complexos, como fez o próprio Jung em seu doutorado, a partir de teorias pretensamente científicas, que faltam em sabedoria. Mortos e complexos podem andar de mãos dadas, mas muito antes disso, como tudo, os mort