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Mostrando postagens de outubro, 2018

Não-escrita (por enquanto!)

          Ontem, nosso país sangrou. Ontem, tivemos um funeral. Mas é preciso acreditar na ressurreição da carne: da carne de terra vermelha, a virgindade de matas verdes, o sangue de águas azuis. É preciso levantar e ser resistência. Respeitemos o resultado das eleições, democratas que somos, mas lembremos também que, quando a vida e a democracia estão na linha de tiro, não somos oposição, somos resistência. Se chorarmos, será de esperança. Se cantarmos, será a palavra de ordem da resistência. Se calarmos, será para buscar no silêncio a potência do novo. Se tivermos medo, será para nos advertir do perigo e relembrar o motivo da luta. Se gritarmos, será em nome da diferença. Se lutarmos, será com livros e flores. Se amarmos, será a cada um na sua singularidade. Se nos perdermos, será para encontrar novos caminhos. Se dormirmos, será para acordar revigorados.             A lista continua. A luta continua. Não posso escrever, não posso pensar. Mas também não posso deixa

Diferença e democracia: como responder ao Brasil 2018?

            Para começo de conversa, não quero que este texto se resuma a um mero ele não ou ele sim. Sei que os poucos a quem minhas palavras chegam estão longe de serem desinformados, então não me interessa listar motivos contra ou a favor de um candidato (há, de fato, desinformados, mas dificilmente estarão lendo isto). Estive em dúvida por algum tempo: não há muito mais o que dizer àqueles a quem alcanço, mas também não posso fechar os olhos e escrever quaisquer palavras sobre qualquer tema acadêmico que nada tem a ver com tudo que está acontecendo... de repente, me dei conta que o que tenho realmente para contribuir, e que ninguém pode fazer por mim, é justamente o encontro destas opções. Escrevo, então, sobre as ideias que me rodeiam – na subjetividade e no laço social – neste momento, pautadas naquilo que estudos aparentemente tão distantes do “patrão nosso de cada dia” podem oferecer para uma visão singular do mundo vivido – tal como vivido hoje.             Curiosamente, m

Libélulas, pavões e cores existenciais

            O divino, seja como totalidade, seja como esvaziamento e nadidade, está sempre posto no lugar daquilo que nos escapa. Com Lacan, chamaríamos de Real, naquilo que “não cessa de não se inscrever”. Com Jung, poderíamos pensar em sua experiência imediata , mas teríamos de criticá-lo pela ilusão de que ela seja possível no seu rigor – ora, ele mesmo nos indica que o arquétipo está além de qualquer experiência possível, para noutro lugar nos falar de uma suposta experiência imediata? Bem, para começo de conversa, se é uma experiência , está na cultura, no mundo simbólico que constitui a própria possibilidade de vivência humana. Radicalizando este conceito junguiano, encontramos, portanto, a própria dimensão impossível da totalidade/nadidade, aquilo que a todo momento nos escapa e nos submete ao furo do Simbólico. Não deixo de passar por Jung, apesar das tensões internas, pela utilidade de apropriações mitológicas e poéticas que produzam abertura.            Importa notar qu