Não seria surpresa que viesse escrever sobre o encurtamento das distâncias, sobre a velocidade do mundo, sobre a circulação de informação, sobre as relações superficiais... tudo isso já é assunto trivial. Quem, das últimas duas ou três gerações, nunca viu o mapa mundi diminuindo de David Harvey na escola? Ainda no senso comum, também falamos do excesso de informação e da falta de compromisso com a verdade (como se soubéssemos o que é essa tal verdade), como quem fala da novela. Sim, há riscos aí, mas há ainda muito a ganhar. Aliás, a última coisa que quero é produzir aqui um julgamento moral das mudanças da nossa era, até porque, se é difícil prever a próxima novidade, mais ainda é prever as implicações do novo mundo sobre nós. Tudo que há é o tempo encurtado, novas comunicações a cada dia, novas relações, novos amores, novas artes... enfim, novas falas. Não só: novas falas e novos falatórios. Mas isso é tudo. Do passado aprendemos, do futuro não sabemos. O que nos serve encontrar é ...
Maria Luiza M. Paiva Como me escrever? E como escrever sem ser de mim? E que é a escrita se não a conversa com outro desconhecido? Não um outro qualquer, nem genérico, nem mesmo suposto… mas, sim, desconhecido. Em cada passo que dei em minha escrita - literária ou acadêmica - descobri cada vez mais que escrever é não saber, não só desse outro que me lê, mas sobretudo de mim mesma. Aprendi cada vez mais a sentar em frente à folha em branco sem ter a mais vaga ideia do que vai aparecer ali. Aqui. Como disse, são coisas que aprendi da minha escrita literária e acadêmica . O problema é que a academia não lida muito bem com isso. Na verdade, a universidade não suporta não saber. E a grande UNIficação do seu saber está nisso: o universitário (no masculino, de propósito) é regido incessantemente pelo seu saber sempre inconcluso, mas sempre prepotente, porque sua inconclusão é insuportável, e é justamente isso que o move. Falar na universidade desde outro lugar é não só um desafio, mas talvez ...